1 INTRODUÇÃO
A indústria da
Construção Civil é conhecida por suas varias peculiaridades, dentre estas
destacam-se:
- Os métodos
construtivos não acompanham o desenvolvimento tecnológico da área, principalmente,
por haver, nos canteiros de obra, uma nítida e grande diferenciação entre o “saber
fazer” e o “saber científico” (FARAH, 1992);
Qualidade e
produtividade, a área de recursos humanos deste setor caracteriza-se por: insuficiência
de programas de treinamento institucionalizado nas empresas, pouco investimento
em formação profissional, declínio do grau de habilidade e qualificação dos trabalhadores
de ofício ao longo dos últimos anos, elevada rotatividade da mão-de obra e
falta de programas de formação em nível operário (LIMA, 1997), o que denota o pouco
investimento do setor na formação e manutenção de seus trabalhadores e
justifica o porquê da Construção Civil ser um dos ramos de atividade mais
conhecido pela precariedade da mão-de-obra.
Porém, os dois
grandes dogmas que cercam este setor são: elevado número de acidentes de
trabalho e elevado desperdício.
Quanto ao
primeiro grande dogma, segundo pesquisa realizada pela Secretaria de Segurança
e Saúde do trabalho e divulgada na revista CIPA de fevereiro de 1997, o ramo da
Construção Civil, em nosso país, ocupa a desconfortável posição de segundo lugar
em casos de acidentes fatais e invalidez permanente e quarto lugar em casos de
incapacidade parcial e permanente.
Contudo, o
intuito deste artigo é discorrer acerca do elevado desperdício que ocorre neste
ramo de atividade. Muito tem sido escrito e debatido sobre como e o que deveria
ser feito para combater tal desperdício porém, são escassos os relatos do que
realmente é feito pelas empresas para tentar sanar este problema.
Assim, o
objetivo deste artigo é demonstrar a importância da diminuição dos níveis de
perda de recursos, bem como, apresentar os dados de uma pesquisa realizada em empresas
da Construção Civil, da cidade de Santa Maria - RS, que verificou quais são as principais
medidas utilizadas para evitar o desperdício.
2 O DESPERDÍCIO
NA CONSTRUÇÃO CIVIL
2.1 Origem do
Desperdício
SOUZA (1997)
afirma que a falta de uma nomenclatura única e, principalmente, de uma metodologia
consistente são as principais barreiras à proposição de alternativas para se combater
os desperdícios existentes.
Considero que o
primeiro passa para romper tais barreiras é identificar de onde advém tal
desperdício e que fatores influenciam na produtividade do setor.
Segundo
MESSEGUER (1991), o desperdício advém, ou se origina, de todas as etapas do
processo de construção covil, que são: planejamento, projeto, fabricação de
materiais e componentes, execução e uso e manutenção.
A Figura 01
demonstra as etapas do processo de construção civil e seus respectivos responsáveis:
Abordar
todo este processo seria muito difícil, portanto, este trabalho restringe-se somente
à etapa de Execução.
Na
Execução das obras da Construção Civil, os fatores que influenciam à
produtividade e que, consequentemente, acarretam desperdícios, são
identificados por SERPELL (1993) como:
a)
Deficiências de projeto e planejamento que dificultam a construtibilidade da
obra e que, normalmente, são causados pela falta de detalhamento no projeto;
b)
Ineficiência da gestão administrativa que enfatiza a correção dos problemas ao invés
da prevenção dos mesmos. Isto ocorre devido ao pouco envolvimento dos administradores
com o processo produtivo;
c)
Métodos ultrapassados e/ou inadequados de trabalho que não observam as experiências
advindas de projetos anteriores, o que ocasiona a repetição dos erros;
d)
Pouca vinculação da obra com as atividades denominadas de apoio, como: compras,
estoques e manutenção;
e)
Problemas com os recursos humanos decorrentes da pouca especialização da mão-de-obra
e alta taxa de turnouver do setor;
f)
Problemas com a segurança dos trabalhadores gerados, principalmente, pelo não fornecimento
e/ou uso dos equipamentos de proteção individual ou coletivo;
g)
Deficiências dos métodos utilizados para o controle de custos projetados e executados.
SERPELL
conclui, de maneira óbvia, que atacando de forma permanente e contínua os sete
pontos anteriores, os índices de perdas na execução das obras será reduzido.
Posteriormente
será realizada à comparação entre as medidas tomadas pelas empresas pesquisadas
e os pressupostos acima. Assim, pretende-se identificar quais, destes sete
itens encontram-se mais deficitários.
2.2
Alguns Números do Desperdício da Construção Civil
Ao
contrário do que ocorre com o número de acidentes, no que tange ao desperdício
não existem dados confiáveis para efetuar a comparação entre o setor da Construção
Civil e os demais setores.
Sabe-se
que a Construção Civil destaca-se por ser um dos setores onde o desperdício é maior.
Chega-se a afirmar que com a quantidade de materiais e mão-de-obra desperdiçados
em três obras, é possível a construção de outra idêntica, ou seja, o desperdício
atingiria um índice de 33%.
Tal
afirmação não possui comprovação científica mas, pesquisas demonstram que este
índice não encontra-se tão fora da realidade.
Apesar
dos progressos oriundos dos investimentos feitos nos últimos anos, o setor da Construção
Civil ainda possuí índices de desperdícios consideráveis, como demonstram pesquisas
recentes.
PINTO
(1995) identifica que os acréscimos nos custos da construção, advindos do desperdício,
são de 6% e os acréscimos na massa de materiais atingem os 20%. O mesmo autor
afirma que: na Bélgica, o acréscimo nos custos advindos do desperdício é de
17%; na França de 12%; e, no Brasil, de cerca de 30% (dado que comprova, em parte,
a afirmação anterior de que com o desperdício de três obras, constróis e outra).
KOSKELA
e SCARDOELLI (apud, VARGAS et ali, 1997) apresentam outros dados alarmantes: o
tempo de perda da mão-de-obra dos serventes pode atingir 50% do tempo total,
100% da argamassa é perdida; e, 30% dos tijolos e elementos de vedação se transformam
em entulho.
Estes
dados demonstram e reforçam a gravidade do problema em questão.
2.3
Formas de Desperdício na Execução de Obras
A
maioria dos autores, como FORMOSO (1996), destacam as perdas que ocorrem na
Construção Civil, classificando-as quanto ao seu controle, sua natureza e
origem. Porém, este artigo utiliza uma abordagem simplificada que serviu de
base para o levantamento dos dados. Assim, as formas de desperdício utilizadas
na pesquisa dividem-se em:
-
Desperdício de materiais
-
Desperdício de mão-de-obra
2.3.1 Desperdício de
Materiais
Englobam
os entulhos e os materiais incorporados à obra.
TACLA
(1984) define entulho em uma obra de Construção Civil como sendo todo o volume
de materiais que sai da obra, sem nenhuma perspectiva de utilização futura. Englobam
as sobras de concreto, argamassa, ferro, blocos de cerâmica, etc. O desperdício de materiais incorporados à obra refere-se ao excesso de materiais utilizados que, ao final do obra, não são percebidos ou pouco se percebe.
2.3.2 Desperdício de
Mão-de-Obra
Refere-se
ao tempo empregado pelos trabalhadores em atividades que não incorporam valor
ao produto final e que podem, facilmente, ser reduzidos ou eliminados sem
causar nenhum prejuízo. Englobam: tempo de espera, de retrabalho, de
transporte, etc.
3
RESULTADOS DA PESQUISA
A
pesquisa foi realizada em 17 empresas de pequeno e médio porte da Construção Civil,
na cidade de Santa Maria – RS.
Utilizei
como instrumento de coleta de dados questionários aplicados, através de entrevistas,
com os “responsáveis” pela empresa, sendo que, na maioria dos caso, o próprio dono
foi o entrevistado.
Foram
realizadas perguntas abertas com o intuito de não influenciar as repostas, sendo
que os entrevistados poderiam fornecer um número ilimitado de respostas. Tais perguntas
resumem-se a:
-
Quais medidas utilizadas pela empresa para evitar o desperdício de mão-de-obra?
-
Quais medidas utilizadas pela empresa para evitar o desperdício de materiais?
Conforme
salientado anteriormente, esta pesquisa teve como intuito identificar quais as
medidas tomadas pelas empresas para evitar o desperdício de mão-de-obra e de materiais.
Neste sentido, as principais informações obtidas foram:
3.1.1
Medidas para Evitar o Desperdício de Mão-de-Obra
Dentre
as principais medidas apontadas pelo empresariado para evitar o desperdício de
mão-de-obra, as mais frequentes foram: a inspeção dos funcionários (88,24%),
o treinamento de pessoal (70,60%) e o aperfeiçoamento técnico (64,71%).
A inspeção
dos funcionários refere-se a constante observação do mestre de obra com o
intuito de evitar “corpo mole”, conforme palavras de um dos entrevistados. O
primeiro lugar obtido por este item demonstra aspectos negativos como: a falta
de confiança nos operários e a utilização de medidas corretivas ao invés de
preventivas.
Destaca-se,
também, a pequena porcentagem de empresas (17,65%) que visualizam a relação
existente segurança no trabalho e a diminuição dos desperdícios.
Porém,
os dois outros itens mais citados (treinamento de pessoal e aperfeiçoamento técnico)
demonstram a preocupação do setor com o aperfeiçoamento da mão-de-obra e destacam-se
como medidas importantes para que os desperdícios sejam reduzidos.
Outro
aspecto altamente positivo utilizado por algumas empresas é o da preocupação
com a manutenção da equipe de operários (29,41%) pois, de nada adianta treinar
e aperfeiçoar a mão-de-obra se, após a conclusão de uma obra, os operários são demitidos.
Salienta-se
que, das 17 empresas pesquisadas, duas (11,76%) não utilizam nenhuma medida
para evitar o desperdício da mão-de-obra.
Todos
os dados obtidos estão detalhados na Tabela 01 e na Figura 02.
Pude
constatar, analisando os dados obtidos (Tabela 02 e Figura 03) que, ao contrário
do que ocorreu com as medidas utilizadas para evitar o desperdício de mão-de obra
onde a inspeção dos funcionários destacou-se como a medida mais utilizada,
nenhuma medida de redução de perdas com materiais teve percentual tão
expressivo.
As
medidas que apresentam maior frequência de utilização são: aperfeiçoamento
técnico (52,29%), treinamento (41,18%) e, apenas em terceiro
lugar encontra-se a fiscalização constante (35,29%).
Observa-se
que a maioria das medidas utilizadas referem-se a aspectos ligados com a
mão-de-obra (75%) e não aos aspectos diretamente relacionados com o desperdício
de materiais (25%).Os itens mencionados que referem-se especificamente ao desperdício de materiais são: reaproveitamento de materiais (41,18%), alteração de layout (5,88%) e melhor acondicionamento de materiais (5,88%).
Salienta-se que as duas empresas que não utilizam medidas para evitar o desperdício da mão-de-obra (11,76%), também não o fazem para evitar o desperdício de materiais.
Para
finalizar este artigo será realizada uma comparação entre os dados obtidos, referentes
às medidas utilizadas pelas empresas para reduzir desperdícios e os sete pressupostos
propostos por SERPELL.
Identificou-se
que as empresas utilizam medidas visando “atacar”, de forma incipiente, apenas
três, dos sete, pressupostos de SERPELL, que são:
_ Problemas com os recursos humanos decorrentes da pouca
especialização da mão-de obra e a alta taxa de turnouver. Tal conclusão decorre
da menção aos seguintes itens: treinamento de pessoal, aperfeiçoamento técnico,
manutenção da equipe e treinamento para conscientização;
_ Problemas com a segurança dos trabalhadores, apontado com o item
fornecimento de segurança no trabalho;
_ Pouca vinculação da obra com as atividades consideradas de apoio
com a menção das seguintes medidas: melhor acondicionamento dos materiais e
alteração de layout.
Neste
sentido, segundo SERPELL, os itens mais deficientes e que merecem atenção são:
-
deficiências de projetos e planejamento;
-
enfoque na prevenção e não correção de problemas;
-
aprender com os erros cometidos;
-
utilizar métodos de controle de custos para quantificar os “prejuízos”advindos do
desperdício.
Enfatiza-se
que esta comparação não visa criticar as medidas tomadas e nem apontar as falhas
das empresas e sim, mostrar caminhos que não estão sendo utilizados e que podem
facilitar a redução dos desperdícios.
Fonte:
Márcia Zampieri Grohmann
Universidade Federal de Santa Maria - Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção
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