quinta-feira, 27 de setembro de 2012

REDUÇÃO DO DESPERDÍCIO NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Excelente artigo sobre redução de desperdício em obras!!!

1 INTRODUÇÃO

A indústria da Construção Civil é conhecida por suas varias peculiaridades, dentre estas destacam-se:
 
- Os operários da Construção Civil são, em sua maioria, provenientes do meio rural e, portanto, não possuem formação técnica anterior (MELO, 1995);

- Os métodos construtivos não acompanham o desenvolvimento tecnológico da área, principalmente, por haver, nos canteiros de obra, uma nítida e grande diferenciação entre o “saber fazer” e o “saber científico” (FARAH, 1992);
 
􀀀 De acordo com o Subcomitê a Indústria da Construção Civil no Programa Brasileiro de

Qualidade e produtividade, a área de recursos humanos deste setor caracteriza-se por: insuficiência de programas de treinamento institucionalizado nas empresas, pouco investimento em formação profissional, declínio do grau de habilidade e qualificação dos trabalhadores de ofício ao longo dos últimos anos, elevada rotatividade da mão-de obra e falta de programas de formação em nível operário (LIMA, 1997), o que denota o pouco investimento do setor na formação e manutenção de seus trabalhadores e justifica o porquê da Construção Civil ser um dos ramos de atividade mais conhecido pela precariedade da mão-de-obra.

Porém, os dois grandes dogmas que cercam este setor são: elevado número de acidentes de trabalho e elevado desperdício.

Quanto ao primeiro grande dogma, segundo pesquisa realizada pela Secretaria de Segurança e Saúde do trabalho e divulgada na revista CIPA de fevereiro de 1997, o ramo da Construção Civil, em nosso país, ocupa a desconfortável posição de segundo lugar em casos de acidentes fatais e invalidez permanente e quarto lugar em casos de incapacidade parcial e permanente.

Contudo, o intuito deste artigo é discorrer acerca do elevado desperdício que ocorre neste ramo de atividade. Muito tem sido escrito e debatido sobre como e o que deveria ser feito para combater tal desperdício porém, são escassos os relatos do que realmente é feito pelas empresas para tentar sanar este problema.

Assim, o objetivo deste artigo é demonstrar a importância da diminuição dos níveis de perda de recursos, bem como, apresentar os dados de uma pesquisa realizada em empresas da Construção Civil, da cidade de Santa Maria - RS, que verificou quais são as principais medidas utilizadas para evitar o desperdício.

2 O DESPERDÍCIO NA CONSTRUÇÃO CIVIL

2.1 Origem do Desperdício

SOUZA (1997) afirma que a falta de uma nomenclatura única e, principalmente, de uma metodologia consistente são as principais barreiras à proposição de alternativas para se combater os desperdícios existentes.

Considero que o primeiro passa para romper tais barreiras é identificar de onde advém tal desperdício e que fatores influenciam na produtividade do setor.

Segundo MESSEGUER (1991), o desperdício advém, ou se origina, de todas as etapas do processo de construção covil, que são: planejamento, projeto, fabricação de materiais e componentes, execução e uso e manutenção.

A Figura 01 demonstra as etapas do processo de construção civil e seus respectivos responsáveis:

Assim, ao contrário do que a maioria dos leigos acredita, os desperdícios da Construção Civil não ocorrem apenas no momento da execução de uma obra. São decorrência de um processo formado de várias etapas e composto de diferentes empresas e pessoas.

Abordar todo este processo seria muito difícil, portanto, este trabalho restringe-se somente à etapa de Execução.

Na Execução das obras da Construção Civil, os fatores que influenciam à produtividade e que, consequentemente, acarretam desperdícios, são identificados por SERPELL (1993) como:

a) Deficiências de projeto e planejamento que dificultam a construtibilidade da obra e que, normalmente, são causados pela falta de detalhamento no projeto;

b) Ineficiência da gestão administrativa que enfatiza a correção dos problemas ao invés da prevenção dos mesmos. Isto ocorre devido ao pouco envolvimento dos administradores com o processo produtivo;

c) Métodos ultrapassados e/ou inadequados de trabalho que não observam as experiências advindas de projetos anteriores, o que ocasiona a repetição dos erros;

d) Pouca vinculação da obra com as atividades denominadas de apoio, como: compras, estoques e manutenção;

e) Problemas com os recursos humanos decorrentes da pouca especialização da mão-de-obra e alta taxa de turnouver do setor;

f) Problemas com a segurança dos trabalhadores gerados, principalmente, pelo não fornecimento e/ou uso dos equipamentos de proteção individual ou coletivo;

g) Deficiências dos métodos utilizados para o controle de custos projetados e executados.

SERPELL conclui, de maneira óbvia, que atacando de forma permanente e contínua os sete pontos anteriores, os índices de perdas na execução das obras será reduzido.

Posteriormente será realizada à comparação entre as medidas tomadas pelas empresas pesquisadas e os pressupostos acima. Assim, pretende-se identificar quais, destes sete itens encontram-se mais deficitários.

2.2 Alguns Números do Desperdício da Construção Civil

Ao contrário do que ocorre com o número de acidentes, no que tange ao desperdício não existem dados confiáveis para efetuar a comparação entre o setor da Construção Civil e os demais setores.

Sabe-se que a Construção Civil destaca-se por ser um dos setores onde o desperdício é maior. Chega-se a afirmar que com a quantidade de materiais e mão-de-obra desperdiçados em três obras, é possível a construção de outra idêntica, ou seja, o desperdício atingiria um índice de 33%.

Tal afirmação não possui comprovação científica mas, pesquisas demonstram que este índice não encontra-se tão fora da realidade.

Apesar dos progressos oriundos dos investimentos feitos nos últimos anos, o setor da Construção Civil ainda possuí índices de desperdícios consideráveis, como demonstram pesquisas recentes.

PINTO (1995) identifica que os acréscimos nos custos da construção, advindos do desperdício, são de 6% e os acréscimos na massa de materiais atingem os 20%. O mesmo autor afirma que: na Bélgica, o acréscimo nos custos advindos do desperdício é de 17%; na França de 12%; e, no Brasil, de cerca de 30% (dado que comprova, em parte, a afirmação anterior de que com o desperdício de três obras, constróis e outra).

KOSKELA e SCARDOELLI (apud, VARGAS et ali, 1997) apresentam outros dados alarmantes: o tempo de perda da mão-de-obra dos serventes pode atingir 50% do tempo total, 100% da argamassa é perdida; e, 30% dos tijolos e elementos de vedação se transformam em entulho.

Estes dados demonstram e reforçam a gravidade do problema em questão.

2.3 Formas de Desperdício na Execução de Obras

A maioria dos autores, como FORMOSO (1996), destacam as perdas que ocorrem na Construção Civil, classificando-as quanto ao seu controle, sua natureza e origem. Porém, este artigo utiliza uma abordagem simplificada que serviu de base para o levantamento dos dados. Assim, as formas de desperdício utilizadas na pesquisa dividem-se em:

- Desperdício de materiais

- Desperdício de mão-de-obra

2.3.1 Desperdício de Materiais

Englobam os entulhos e os materiais incorporados à obra.
TACLA (1984) define entulho em uma obra de Construção Civil como sendo todo o volume de materiais que sai da obra, sem nenhuma perspectiva de utilização futura. Englobam as sobras de concreto, argamassa, ferro, blocos de cerâmica, etc.
O desperdício de materiais incorporados à obra refere-se ao excesso de materiais utilizados que, ao final do obra, não são percebidos ou pouco se percebe.

2.3.2 Desperdício de Mão-de-Obra

Refere-se ao tempo empregado pelos trabalhadores em atividades que não incorporam valor ao produto final e que podem, facilmente, ser reduzidos ou eliminados sem causar nenhum prejuízo. Englobam: tempo de espera, de retrabalho, de transporte, etc.

3 RESULTADOS DA PESQUISA

A pesquisa foi realizada em 17 empresas de pequeno e médio porte da Construção Civil, na cidade de Santa Maria – RS.

Utilizei como instrumento de coleta de dados questionários aplicados, através de entrevistas, com os “responsáveis” pela empresa, sendo que, na maioria dos caso, o próprio dono foi o entrevistado.

Foram realizadas perguntas abertas com o intuito de não influenciar as repostas, sendo que os entrevistados poderiam fornecer um número ilimitado de respostas. Tais perguntas resumem-se a:

- Quais medidas utilizadas pela empresa para evitar o desperdício de mão-de-obra?
- Quais medidas utilizadas pela empresa para evitar o desperdício de materiais?
 
Conforme salientado anteriormente, esta pesquisa teve como intuito identificar quais as medidas tomadas pelas empresas para evitar o desperdício de mão-de-obra e de materiais. Neste sentido, as principais informações obtidas foram:

3.1.1 Medidas para Evitar o Desperdício de Mão-de-Obra

Dentre as principais medidas apontadas pelo empresariado para evitar o desperdício de mão-de-obra, as mais frequentes foram: a inspeção dos funcionários (88,24%), o treinamento de pessoal (70,60%) e o aperfeiçoamento técnico (64,71%).

A inspeção dos funcionários refere-se a constante observação do mestre de obra com o intuito de evitar “corpo mole”, conforme palavras de um dos entrevistados. O primeiro lugar obtido por este item demonstra aspectos negativos como: a falta de confiança nos operários e a utilização de medidas corretivas ao invés de preventivas.

Destaca-se, também, a pequena porcentagem de empresas (17,65%) que visualizam a relação existente segurança no trabalho e a diminuição dos desperdícios.

Porém, os dois outros itens mais citados (treinamento de pessoal e aperfeiçoamento técnico) demonstram a preocupação do setor com o aperfeiçoamento da mão-de-obra e destacam-se como medidas importantes para que os desperdícios sejam reduzidos.

Outro aspecto altamente positivo utilizado por algumas empresas é o da preocupação com a manutenção da equipe de operários (29,41%) pois, de nada adianta treinar e aperfeiçoar a mão-de-obra se, após a conclusão de uma obra, os operários são demitidos.

Salienta-se que, das 17 empresas pesquisadas, duas (11,76%) não utilizam nenhuma medida para evitar o desperdício da mão-de-obra.

Todos os dados obtidos estão detalhados na Tabela 01 e na Figura 02.

 



3.1.2 Medidas para Evitar o Desperdício de Materiais

Pude constatar, analisando os dados obtidos (Tabela 02 e Figura 03) que, ao contrário do que ocorreu com as medidas utilizadas para evitar o desperdício de mão-de obra onde a inspeção dos funcionários destacou-se como a medida mais utilizada, nenhuma medida de redução de perdas com materiais teve percentual tão expressivo.

As medidas que apresentam maior frequência de utilização são: aperfeiçoamento técnico (52,29%), treinamento (41,18%) e, apenas em terceiro lugar encontra-se a fiscalização constante (35,29%).
Observa-se que a maioria das medidas utilizadas referem-se a aspectos ligados com a mão-de-obra (75%) e não aos aspectos diretamente relacionados com o desperdício de materiais (25%).
Os itens mencionados que referem-se especificamente ao desperdício de materiais são: reaproveitamento de materiais (41,18%), alteração de layout (5,88%) e melhor acondicionamento de materiais (5,88%).
Salienta-se que as duas empresas que não utilizam medidas para evitar o desperdício da mão-de-obra (11,76%), também não o fazem para evitar o desperdício de materiais.

 

 

4 CONCLUSÃO

Para finalizar este artigo será realizada uma comparação entre os dados obtidos, referentes às medidas utilizadas pelas empresas para reduzir desperdícios e os sete pressupostos propostos por SERPELL.

Identificou-se que as empresas utilizam medidas visando “atacar”, de forma incipiente, apenas três, dos sete, pressupostos de SERPELL, que são:

_ Problemas com os recursos humanos decorrentes da pouca especialização da mão-de obra e a alta taxa de turnouver. Tal conclusão decorre da menção aos seguintes itens: treinamento de pessoal, aperfeiçoamento técnico, manutenção da equipe e treinamento para conscientização;

_ Problemas com a segurança dos trabalhadores, apontado com o item fornecimento de segurança no trabalho;

_ Pouca vinculação da obra com as atividades consideradas de apoio com a menção das seguintes medidas: melhor acondicionamento dos materiais e alteração de layout.

Neste sentido, segundo SERPELL, os itens mais deficientes e que merecem atenção são:

- deficiências de projetos e planejamento;

- enfoque na prevenção e não correção de problemas;

- aprender com os erros cometidos;

- utilizar métodos de controle de custos para quantificar os “prejuízos”advindos do desperdício.
 
Enfatiza-se que esta comparação não visa criticar as medidas tomadas e nem apontar as falhas das empresas e sim, mostrar caminhos que não estão sendo utilizados e que podem facilitar a redução dos desperdícios.
Fonte:

Márcia Zampieri Grohmann
Universidade Federal de Santa Maria - Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção
 


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